domingo, janeiro 15, 2017

Um contemplativo não é um místico

A afirmação não é minha, é de Antonio Muñoz Molina, escritor espanhol.
Explica logo a seguir a sua ideia, sendo muito claro no que diz.
«Un contemplativo no es un místico. Es alguien que se queda extasiado de pura atención ante una maravilla cualquiera del mundo exterior: un río, la gente que pasa tras las ventana de un café, un cuadro, un árbol, una pieza de música, la belleza de alguien, el extrarradio de una ciudad desplegándose en la ventanilla de un tren, la tipografía de un cartel, el reflejo de la calle en un escaparate, un libro.»
«Um contemplativo não é um místico. É alguém que cai extasiado de pura atenção em face de uma maravilha qualquer do mundo exterior: um rio, as pessoas que passam do lado de lá da vidraça de um café, um quadro, uma árvore, uma peça de música, a beleza de alguém, a paisagem que envolve a cidade que vemos passar por nós através da janela de um comboio, os escritos de um cartaz, o reflexo da rua numa montra, um livro.»
Reconheço-me no que diz, penso que sou um contemplativo de todos os dias da semana; mas já seria bom que a generalidade das pessoas o tentassem ser, no mínimo, ao domingo - por isso seria importante, por exemplo, voltar ao tempo de todo o comércio estar encerrado ao domingo (e contra mim falo, que tantas vezes faço compras nesse dia tão curioso, ao mesmo tempo, primeiro e último: é o primeiro a seguir ao tal sétimo dia em que Deus descansou da Sua obra de criação do Mundo; e é o segundo e último do fim-de-semana que a organização comercial do mesmo Mundo acabou impondo - um dia terei de procurar por aí a origem do composto nome, "fim-de-semana"...).
Quanto ao que diz sobre Eça de Queiroz, vale bem a pena tudo o que diz; e não deixo de realçar algo sobre o que tantas vezes acontece nas nossas vidas, e de que podemos ou não tirar partido: a circunstância de um acaso, do encontro fortuito com uma pessoa ou um livro; ou outra coisa qualquer.
Yo pasaba horas leyendo La ciudad y las sierras, estremecido por esa maestría a la vez jubilosa y ácida de Eça de Queiroz, un novelista que tiene la alegría del joven Dickens de los Pickwick Papers, la desmesura cómica de Cervantes, la agudeza quirúrgica en la observación social de Flaubert y Zola; y además una desvergüenza erótica y una irreverencia religiosa que no tiene equivalencia en el siglo XIX, y que viene más bien de los enciclopedistas y los libertinos del XVIII, de Diderot y Choderlos de Laclos, con un amor idéntico por los placeres terrenales y por la libertad de espíritu.
Texto integral: http://cultura.elpais.com/cultura/2017/01/12/babelia/1484247035_988185.html?id_externo_rsoc=FB_CC 

Um abraço bem cordial ao António Eça de Queiroz, que me pôs na pista deste tão agradável e interessante artigo.

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